sábado, 12 de novembro de 2011

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Certo dia me lembrei, sentada no chão do meu quarto, olhando pela janela o pedaço azul recortado de céu, de um velho conto, uma velha história sobre insetos. Coincidentemente, naquela noite, a mesma lembrança me trouxe uma estranha sensação de fraqueza, que me fez adormecer paulatinamente, como se algo me enebriasse.
Rápido o sonho veio e encontrou desprevenido meu subconsciente. Deitada em minha cama, eu era devorada por formigas carnívoras. Pequeninas, eram milhões, comiam vagarosamente minhas asas que sangravam um líquido azul. As paredes do quarto eram assustadoramente altas e extensas, como prédios de vinte andares.
Eu, envolta por formigas, caminhava pelo quarto proferindo palavras, fortes palavras, que exigiam o esforço de um tossir. A cada palavra, formigas eram expelidas para longe, manchando as gigatescas paredes, desenhando formas abstratas pelos cantos, pelas gretas, pelos poros dos tijolos.
Não doía a corrosão de cada camada de pele, de cada camada de penas das minhas asas. Corroíam cada parte do meu corpo, transformando-me em um ser à flor da pele, sem rosto, sem traços, sem feições que me distinguissem. As palavras não cessavam de sujar as paredes, formas estranhas e aleatórias eram criadas pelo meu subconsciente expelido.
Eu queria parar. Este processo, contudo, não dependia de mim. Não me dóia, nem incomodavam as pequenas formigas. Era se como cada um daqueles insetos correspondessem a uma ligação neural, a cada transmissão nervosa que no meu cérebro acontecia a cada milésimo de segundo. Me consumiam. Desse sonho eu jamais despertei, acordada, sou escrava do meu subconsciente.

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