sábado, 12 de novembro de 2011

Ensaio de um conto – porque não sei escrever frases longas

Aquele dia começou com um estalido. Clarice acordou então, olhando ao seu redor. A cama vazia, garrafas vazias, cigarros e a certeza de que a noite fora longa e de que algo realmente ocorrera.  Algo inesperado que talvez pudesse acabar com aquela sensação que há tempos vinha sentindo, a sensação de que poderia cometer suicídio a qualquer momento.
Na noite anterior, lembrava-se, descobrira que não sabia escrever contos ou coisas que precisassem de longas explicações, em linhas mais longas ainda. Era de frases curtas. Seu companheiro (ou seria companheira?) teria lhe dito algo assim, antes que as luzes se apagassem.
Aquele novo dia, que surgia como um poema que se desenrola com o vento, trazia uma certeza ínfima de que cada coisa estaria em seu lugar. Os vasos de flores, a cama do gato, a mesa e as cadeiras, assim como o violão, encostado na parede do quarto. Era, contudo, uma certeza, a primeira nos últimos meses.
Resolveu se despir para um banho e sair de casa. O dia prometia grandes surpresas. Escolheu um vestido azul, nunca antes usado, que ganhara de aniversário de uma tia distante. Calçou sua sapatilha preferida, perfumou-se e saiu.
Como nos contos que nunca escrevera, Clarice jamais voltou. Não precisava mais daquela vida em que as coisas repentinamente haviam voltado para seus devidos lugares. Como em seus poemas, curtos, simples e carregados de uma objetividade que chegava à incompreensão, Clarice atravessara a rua e ali, as coisas simplesmente se concluíram. Seu dia não havia começado com um estalido? Ou era aquele o fim?

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